08/05/2017 - Neste momento, em um ponto do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, um caminhão aguarda por um improvável resgate. Há 51 dias, desde que o motorista da transportadora foi alvo de criminosos, o rastreador indica a localização exata do veículo. Porém, o forte poderio bélico dos traficantes locais, aliado à geografia do conjunto de favelas, torna quase impossível uma incursão policial que não envolva um enorme aparato — não por acaso, a região transformou-se, desde o fim de 2016, num dos principais redutos de assaltantes de carga do estado.
Ao contrário do que ocorre em outras comunidades, são os próprios traficantes que saem ao asfalto para praticar os crimes. Eles agem a mando de Thomaz Jhayson Vieira Gomes, de 23 anos, o 2N, responsável pela venda de drogas no Salgueiro desde junho e membro da mesma facção que atua no Chapadão. De janeiro a março, foram registrados na 72ª DP (Mutuá), responsável pela área, 90 roubos de caminhões, uma média de um assalto por dia.
— É o 2N quem comanda tudo. E foi na gestão dele que houve este incremento (nos roubos de carga) — explica o delegado Flávio Narcizo, titular da 72ª DP.
Produtos têm até tabela de preços
De tão grande a oferta de cargas roubadas pelos bandidos do Salgueiro, alguns receptadores criaram até mesmo, segundo a polícia, tabelas que definem o preço de revenda dos itens. Os agentes já encontraram, por exemplo, uma caixa de cerveja, com 24 garrafas de 600ml, sendo comercializada a R$ 20 — valor pelo menos quatro vezes menor do que o praticado em grande depósitos de bebida (em supermercados, o custo chega a ser de quase R$ 150).
Além das bebidas, os produtos mais visados pelos assaltantes da região são os gêneros alimentícios e os cigarros. A carga costuma ser redistribuída sem a participação de atravessadores ou intermediários, tal qual no Chapadão ou na Pedreira.
— Os itens roubados são vendidos em pequenos comércios — diz o delegado Flávio Narcizo.
A atuação dos bandidos em São Gonçalo chamou a atenção também da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC), unidade que investiga as grandes quadrilhas do ramo no estado.
— Hoje, Chapadão, Pedreira e Salgueiro são nossos pontos prioritários de atuação — confirma o delegado Maurício Mendonça, titular da especializada.
Por: Luã Marinatto, Marcos Nunes e Pollyanna Brêtas
Foto: Fábio Guimarães
Fonte: Extra
Postar um comentário